Serpentes de Interesse Médico da Amazônia: Biologia, Vevenos e Tratamento de Acidentes

 Título:  Serpentes de Interesse Médico da Amazônia: Biologia, Vevenos e Tratamento de Acidentes

 Autor:    Maria Cristina dos Santos [et al.].  Manaus: UA/SESU, 1995. 

Categoria:  Biolgia


Serpentes de Interesse Médico da Amazônia: Biologia, Vevenos e  Tratamento de Acidentes



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APRESENTAÇÃO


Na história do ofidismo mundial, o Brasil tem grande importância, sobretudo pelas pesquisas

realizadas por Vital Brazil, no início deste século. Anteriormente aos trabalhos realizados por Vital Brazil, A. Calmette, na Indochina, estudando o veneno de Naja tripudians, e C. Phisalix e G. Ber-trand, na França, estudando Vipera aspis, demonstraram simultaneamente a possibilidade de se obterum soro antitóxico preventivo e curativo contra o veneno das serpentes e preconizaram a utilização deste para todos os tipos de acidentes ofídicos. Testando este antiveneno, denominado polivalente, frente às espécies brasileiras, Vital Brazil observou que o mesmo não neutralizava a atividade letal.

Foi então que, ao produzir antivenenos a partir da imunização com venenos das espécies brasileiras,

Vital Brazil observou que estes neutralizavam a atividade letal, descobrindo a especificidade dos

antivenenos.

A partir dessa época, muitos pesquisadores contribuíram para o avanço dos conhecimentos

sobre os venenos das serpentes brasileiras. Além do Instituto Butantan (SP), pioneiro na produção

de antivenenos, outros grupos foram formados, como a Fundação Ezequiel Dias (MG) e o Instituto

Vital Brazil (RJ).

No Brasil, os acidentes ofídicos constituem um sério problema de saúde pública, em virtude

do grande número de pessoas atingidas anualmente e da própria gravidade dos casos. No entanto,

este problema de saúde pública difere dos demais, como a doença de Chagas e o cólera, por não

possuir medidas sanitárias preventivas, pois estes acidentes ocorrem normalmente pela invasão do

homem no habitat das serpentes. Medidas profiláticas podem ser tomadas de forma a diminuir os

riscos de acidente.


Com base nas informações do Ministério da Saúde, a freqüência de acidentes ofídicos na regi-

ão Norte (0,28 casos em cada mil habitantes, por ano, entre 1986 e 1989) é quase duas vezes maior


que a freqüência média para o Brasil (0,15 casos em cada mil habitantes, por ano, no mesmo perío-

do). Esta alta freqüência de acidentes ofídicos na região Norte provavelmente ainda seja subestima-

da, devido à baixa notificação dos acidentes que ocorrem nesta região, especialmente no Estado do


Amazonas (onde a freqüência de acidentes é de 0,20 casos em cada mil habitantes, por ano). Esta

provável subnotificação pode ser devida à crença infundada de que o paciente deve receber o soro

apenas durante as primeiras seis horas após a picada. Sabe-se que o veneno se mantém na circulação


por longos períodos após o acidente; portanto, o paciente deve receber a soroterapia, independente-

mente do tempo decorrido após a picada. A notifição do acidente ofídico só é fornecida ao Ministé-

rio da Saúde quando o paciente recebe a soroterapia. Entretanto, no Estado do Amazonas, como o


principal meio de transporte é o fluvial, os pacientes acabam chegando ao hospital ou posto de saú-

de, geralmente muitas horas após o acidente e não recebem o soro. Portanto, os acidentes acabam


não sendo notificados e devem ser em número muito maior do que consta em estatísticas oficiais.


Além disso, a grande diversidade de serpentes peçonhentas, aliada à enorme extensão territorial, for-

talece as suspeitas de subnotificação. Em razão disto, resolvemos escrever este manual para que os


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profissionais da área da saúde possam se atualizar em relação às serpentes, aos venenos e ao trata-

mento dos acidentes ofídicos que ocorrem na região amazônica. Desta forma, esperamos estimular a


notificação dos acidentes ofídicos para que o Ministério da Saúde possa distribuir os antivenenos em

quantidades adequadas para o atendimento dos pacientes da região.


Antes de entrarmos no assunto das serpentes e seus venenos, é preciso esclarecer alguns ter-

mos para facilitar o entendimento do texto. Existe uma certa confusão entre os termos veneno e pe-

çonha (e conseqüentemente entre os termos venenoso e peçonhento). Animais peçonhentos são


aqueles que introduzem substâncias tóxicas (peçonhas), produzidas em glândulas, no organismo vi-

vo, com auxílio de aparelho inoculador (ferrões, acúleos, presas ou dentes). Portanto, as peçonhas


são inoculadas (ou injetadas) nos organismos vivos. Por outro lado, os animais venenosos são aque-

les que possuem glândulas produtoras de veneno, embora não apresentem órgão inoculador. Neste


caso, o envenenamento ocorre pela ingestão do animal portador de veneno ou do próprio veneno. Os


venenos são constituídos de compostos orgânicos secundários de baixo peso molecular, como os al-

calóides. Os animais conhecidamente venenosos são os sapos (cururus, por exemplo) e algumas rãs


(da família Dendrobatidae, por exemplo). Para que um animal (ou o próprio homem) seja envenena-

do por um destes animais, é preciso que ele os ingira. As serpentes, os escorpiões, as aranhas, as


abelhas e as lacraias são considerados animais peçonhentos, pois são capazes de inocular a peçonha.

É muito comum o uso do termo veneno para designar peçonha. Neste texto, utilizaremos estes dois

termos indistintamente.


Outra confusão comum ocorre com os termos cobra e serpente. Algumas pessoas leigas acre-

ditam que as serpentes são venenosas e as cobras não o são, o que é errado. Na verdade, os dois ter-

mos significam a mesma coisa e podem designar qualquer espécie, venenosa ou não.


Ao longo do presente texto utilizaremos com freqüência os termos subespécie, espécie, gêne-

ro e família, usados na classificação científica dos seres vivos. Desde os tempos antigos, a classifi-

cação dos animais segue uma estrutura hierárquica na qual os organismos são agrupados de acordo


com a presença de características comuns (por exemplo, os cachorros domésticos, os lobos e as ra-

posas são todos incluídos em um mesmo grupo, a família Canidae, por possuírem diversas caracte-

rísticas em comum). Os níveis da classificação mais comumente utilizados são a família, o gênero, a


espécie e a subespécie. Vejamos um exemplo prático, utilizando uma serpente. A cascavel brasileira

é considerada pelos cientistas como uma espécie, designada cientificamente de Crotalus durissus.

Note que o nome científico de uma espécie é sempre escrito com letras diferentes (neste texto elas

aparecem inclinadas) e sempre composto por dois nomes: o primeiro designa o gênero (Crotalus;


sempre com a primeira letra maiúscula) e o segundo designa a espécie (durissus; sempre com a pri-

meira letra minúscula). O nome durissus sozinho não tem nenhum sentido, pois o nome relativo à


espécie deve vir sempre acompanhado do nome relativo ao gênero (Crotalus), ou seja, Crotalus du-

rissus neste exemplo. Usa-se ainda a categoria subespécie para designar raças diferentes de uma


mesma espécie. Neste caso, a cascavel que ocorre no Brasil (Crotalus durissus) é dividida em várias

subespécies, como Crotalus durissus terrificus (a cascavel do Sul e Sudeste do Brasil) e Crotalus


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durissus ruruima (a cascavel de Roraima). Note que o nome da subespécie vem após o nome da es-

pécie e que também se inicia com letra minúscula. A categoria gênero pode possuir mais de uma


espécie. Por exemplo, Crotalus scutulatus (uma cascavel da América do Norte) é outra espécie do


gênero Crotalus. Já a categoria família pode englobar vários gêneros: por exemplo, a família Vipe-

ridae agrupa os gêneros Bothrops (que engloba diversas espécies de jararacas), Lachesis (que possui


apenas uma espécie, a surucucu-pico-de-jaca) e Crotalus (que engloba várias espécies de cascavel,

das quais uma delas ocorre no Brasil). Note que o nome da família (por exemplo, Viperidae) não é

escrito com letras diferentes, sempre começa com letra maiúscula e sempre termina em “dae”.

O propósito deste livreto é a atualização dos profissionais de saúde em relação às serpentes,

aos venenos e ao tratamento dos acidentes ofídicos que ocorrem na região amazônica. Este texto não

deve substituir os manuais distribuídos pelo Ministério da Saúde, mas complementá-los.

Junto com este livreto estão dois cartazes educativos: um sobre as serpentes venenosas da

Amazônia e outro sobre primeiros socorros e prevenção de acidentes ofídicos. Afixe-os em um local

bem visível para que um grande número de pessoas possa vê-los.

As tabelas citadas no texto e o método de determinação do tempo de coagulação sangüínea


(TC) estão agrupados em anexo, no fim do livreto, para facilitar a consulta. Recomendamos aos pro-

fissionais de saúde que copiem essas tabelas e o método de TC (através de reprografia) e afixem-nos


em local de fácil visualização. Maiores detalhes sobre as informações apresentadas nas tabelas en-

contram-se no texto.


Qualquer dúvida ou sugestão que você tenha com relação a este livreto, por favor, entre em

contato conosco. Suas dúvidas e sugestões podem nos ajudar a melhorar a qualidade deste texto,

tornando-o de fácil compreensão e acessível a um maior número de profissionais.

Os autores.

Manaus, 1995.


http://eco.ib.usp.br/labvert/Serpentes-de-Interesse-Medico-da-Amazonia.pdf

Serpentes de Interesse Médico da Amazônia: Biologia, Vevenos e  Tratamento de Acidentes



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Ronaldo Silva: Professor e Especialista em Ensino de Ciências, pela UFF/RJ, com mais de 25 anos de experiência no magistério.

 
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